quarta-feira, 15 de junho de 2011

Estudantes sul-coreanos protestam contra alto 'preço do sucesso'

Fonte: Agência EFE S/A.

Estudantes sul-coreanos estão em pé de guerra para pedir redução do valor das matrículas de universidades, transformadas em clubes exclusivos que estabelecem o futuro social e trabalhista em um país obsessivo com a educação. Segundo dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a educação sul-coreana é a mais cara atrás apenas dos EUA, e as famílias têm que pagar pela maior parte das mensalidades, quase não coberta pelo Estado.
O valor médio da matrícula em uma universidade, seja pública ou particular, ronda os 8 milhões de wons anuais (US$ 7,37 mil), embora em alguns cursos, como Medicina, pode superar os 10 milhões de wons (US$ 9,21 mil). Como ainda não foi cumprida a promessa eleitoral que o atual presidente sul-coreano, Lee Myung-Bak, fez em 2007 de reduzir o valor das matrículas para metade no caso das universidades públicas e oferecer ajuda às particulares, os estudantes resolveram protestar.
Só neste fim de semana 5 mil manifestantes, acompanhados dos pais, se reuniram para reivindicar que Lee assuma seu compromisso. Em seus slogans, alguns dos quais não disfarçam sua inspiração nos protestos das praças espanholas após o 15-M, associações de estudantes com nomes como "Todos Juntos" pedem uma "revolução real" e que as pessoas "fiquem indignadas".
A redução do valor da custosa educação sul-coreana é um problema complicado, já que o pagamento de matrícula das grandes universidades públicas corresponde à metade de seu financiamento, por isso um corte encolheria significativamente o seu orçamento.
Isso também mudaria a forma como administrariam as 350 universidades que são tachadas de pouco transparentes e de funcionar quase como empresas, mas por outro lado, melhoraria de forma expressiva a condição financeira de centenas de milhares de famílias.
Atualmente os sul-coreanos com menos recursos lamentam que seus filhos encontrem portas fechadas nas três grandes universidades do país, que são também as mais caras, mas são consideradas uma garantia de sucesso e uma marca de distinção social.
Trata-se da Universidade Nacional de Seul, a da Coreia e a de Yonsei, conhecidas com o acrónimo de "SKY" ("céu"): Desde criança, muitos estudantes são duramente pressionados para entrar em uma dessas faculdades, já que além do desembolso econômico essas instituições exigem um desempenho acadêmico de excelência.
Famílias endividadas e estudantes com menos de 20 anos já aparecem em listas de caloteiros, resultado deste sistema que, além disso, esconde anos de árduo esforço acadêmico.
Frequentemente em escolas públicas, os mais novos recebem lições durante duas horas após as aulas e depois têm que estudar com outros tutores disciplinas como matemática, ciências e música. "Normalmente estão muito cansados por causa dessa rotina diária, que às vezes supera 12 horas de estudo, mas não se queixam porque não conhecem outro tipo de vida", disse à Agência Efe Jessie Wetherby, professora de inglês para crianças de entre 8 e 13 anos em um curso particular.
No ensino médio, o sistema é ainda mais exigente diante da proximidade do vital exame de acesso à universidade, o que fez com que proliferassem cursos tipo internato onde o telefone celular é proibido, e é imposta uma rígida disciplina de estudo, que em alguns casos leva o aluno ao limite de suas forças.
Apesar da Coréia do Sul liderar junto à Finlândia o relatório PISA da OCDE sobre rendimento escolar, muitos aproveitaram os protestos destes dias para criticar as desigualdades do sistema nacional e pedir um mais transparente e menos voltado para o lucro empresarial dentro da universidade

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